ALVORADA...
A xícara de café esfria na esquina da Olguinha, ou no balcão do Brutus.
A vida segue, o Spadel espia a rua, os cães ladram, a caravana passa, o Perdoná anuncia mais um bailão. E no meio disso tudo, há esta coluna.
Nem brilhante, nem estúpida.
Apenas um punhado de palavras, uma pausa entre uma conversa e outra, um descanso para os olhos de quem já cansou de ler tragédias, politicagens, vaidades e promessas vazias.
Chama-se Polis, mas não espere debates profundos sobre a pólis, a política ou os rumos da civilização. Aqui na Benedetta, a cidade gira no seu próprio eixo, pequena e teimosa.
As ruas são as mesmas, as calçadas ainda tropeçam os distraídos, cada novo político salva mais o mundo que o anterior e a praça segue ali, firme, testemunha silenciosa do tempo.
A única coisa que realmente muda é o preço da gasolina, os mandatários e seus escudeiros e, de vez em quando, o padre da paróquia.
O sujeito abre o jornal, não porque busca uma revolução, mas porque já discutiu tudo o que podia na barbearia, no bar, no Baggio. Já soube da morte de alguém do interior, da briga entre os vizinhos de uma rua do centro, do cachorro que correu atras da moto, já leu o Maestrelli. O que resta?
Resta Polis, essa crônica sem pressa, sem grito, sem urgência. Não há aqui grandes revelações ou inspirações, e se acontecerem, são acidentais.
Talvez um comentário sobre coisas mais espinhentas ou banais, um ou outro floreio, mas não é aqui que vais te motivar a mudar de vida, de opinião, não e aqui que salvaremos o mundo, isto, deixo aos profetas e messias, coaches e demais gêneros humanos tão afoitos em salvar seus egos e contas bancárias.
Urussanga segue seu ritmo. A chuva cai quando quer, o vento sopra quando lhe dá vontade, a conversa monótona na praça acontece. O sujeito dobra o jornal, termina o café já morno e percebe que nada mudou.
Mas também, quem disse que precisava mudar?
No fim, Polis não é um grito nem um sussurro.
É só um intervalo, um punhado de palavras, um descanso da realidade sem fugir dela. Afinal, o silêncio teme as palavras ruidosas e a cabeça meu amigo, precisa de uma pouco de ócio...